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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Carl Rogers - A relação de autodescoberta entre o aluno e o ensino


Carl Rogers

                  nasceu em Chicago  em 1902.Formado em História e Psicologia, aplicou à Educação princípios da Psicologia Clínica, foi psicoterapeuta por mais de 30 anos.
    No Brasil suas idéias tiveram difusão na década de 70, em confronto direto com as idéias Comportamentalistas (behaviorismo), que teve em Skinner um de seus principais representantes.
     Rogers é considerado um representante da corrente humanista, não diretiva, em educação. Rogers concebe o ser humano como fundamentalmente bom e curioso, que, porém, precisa de ajuda para poder evoluir. Eis a razão da necessidade de técnicas de intervenção facilitadoras.
    O rogerianismo na educação, aparece como um movimento complexo que implica uma filosofia da educação, uma teoria da aprendizagem, uma prática baseada em pesquisas, uma tecnologia educacional e uma ação política.
    Ação política, no sentido de que, para desenvolver-se uma educação centrada na pessoa, é preciso que as estruturas da instituição - escola- mudem.
Aprendizagem significativa em Psicoterapia
" Por aprendizagem significativa entendo uma aprendizagem que é mais do que uma acumulação de fatos. É uma aprendizagem que provoca uma modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação futura que escolhe ou nas suas atitudes e personalidade. É uma aprendizagem penetrante, que não se limita a um aumento de conhecimentos, mas que penetra profundamente todas as parcelas da sua existência." Rogers, in Tornar-se Pessoa, 1988, editora Martins Fontes.

           
As condições de aprendizagem em Psicoterapia:

enfrentando um problema;
o terapeuta precisa possuir um considerável grau de congruência na relação;
consideração positiva incondicional;
compreensão empática;
necessidade que o terapeuta consiga comunicar ao cliente as condições anteriores.
           
Implicações no domínio da Educação



necessidade da aprendizagem ser significativa, o que acontece mais facilmente quando as situações são percebidas como problemáticas, portanto pode-se dizer que só se aprende aquilo que é necessário, não se pode ensinar diretamente a nenhuma pessoa;
autenticidade do professor, isto é, a aprendizagem pode ser facilitada se ele for congruente. Isso implica que o professor tenha uma consciência plena das atitudes que assume, sentindo-se receptivo perante seus sentimentos reais, tornando-se uma pessoa real na relação com seus alunos;
aceitação e compreensão: a aprendizagem significativa é possível se o professor for capaz de aceitar o aluno tal como ele é, compreendendo os sentimentos que este manifesta, pois a aprendizagem autêntica é baseada na aceitação incondicional do outro;
tendência dos alunos para se afirmarem, isto é , os estudantes que estão  em contato real com os problemas da vida, procuram aprender, desejam crescer e descobrir, querem criar, o que, pressupõe uma confiança básica na pessoa, no seu próprio crescimento
a função do professor consistiria no desenvolvimento de uma relação pessoal com seus alunos e de o estabelecimento de um clima nas aulas que possibilitasse a realização natural dessas tendências; portanto o professor é um facilitador da aprendizagem significativa, fazendo parte do grupo e não estando colocado acima dele; este também é um dos pressupostos básicos da teoria de Rogers, ou seja, o aspecto interacional da situação de aprendizagem, visando às relações interpessoais e intergrupais;
o professor e o aluno são co-responsáveis pela aprendizagem, não havendo avaliação externa, a auto-avaliação deve ser incentivada; implica em uma filosofia democrática;
organização pedagógica flexível;
é por meio de atos que se adquire aprendizagens mais significativas;
a aprendizagem mais socialmente útil, no mundo moderno, é  a do próprio processo de aprendizagem, uma contínua abertura à experiência e à incorporação, dentro de si mesmo, do processo de mudança.

     Como metodologia, a não-diretividade é característica. É um método não estruturante de processo de aprendizagem, pelo qual o professor não interfere diretamente no campo cognitivo e afetivo do aluno. Na verdade, Rogers pressupõe que o professor dirija o estudante às suas próprias experiências, para que, a partir delas, o aluno se autodirija. Rogers propõe a sensibilização, a afetividade e a motivação como fatores atuantes na construção do conhecimento.
       Uma das idéias mais importantes na obra de Rogers é a de que a pessoa é capaz de controlar seu próprio desenvolvimento e isso ninguém pode fazer para ela.

Na obra acima citada, páginas 271, 272, Rogers coloca:
"Algumas questões para concluir"

     " ...Mesmo que tentemos esse método para facilitar a aprendizagem, levantam-se muitas questões difíceis. Podemos permitir aos estudantes que entrem em contato com os problemas reais? Toda a nossa cultura-procura insistentemente manter os jovens afastados de qualquer contato com os problemas reais. Os jovens não tem que trabalhar, assumir responsabilidades, intervir nos problemas cívicos ou políticos, não tem lugar nos debates das questões internacionais. ...Será possível inverter essa tendência?
...Uma outra questão é a de saber se podemos permitir que o conhecimento se organize no e pelo indivíduo, em vez de ser organizado para o indivíduo. Sob esse aspecto, os professores e os educadores se alinham com os pais e com os dirigentes nacionais para insistirem que os alunos devem ser guiados....Espero que, ao levantar essas questões, tenha mostrado claramente que o duplo problema que é a aprendizagem significativa e forma de como realizá-la nos coloca perante problemas profundos e graves. ...Tentei apontar algumas dessas implicações das condições facilitadoras da aprendizagem no domínio da educação, e propus, uma resposta a essas questões..."

     A grande crítica à teoria de Rogers é feita pela utopia que ela implica, sua teoria é idealista, da corrente também denominada de romântica, irrealizável para seus críticos. Porém, na obra rogeriana são notáveis os seguintes aspectos: o desejo de mudança, a intenção de realização de algo concreto e a preparação da opinião pública para as mudanças possíveis.
" A escola evita a promoção de atividades significantes." (Carl Rogers)


Aceitação e a pedagogia rogeriana


 
Só acontece uma aprendizagem válida quando o estudante apreende seu objeto como tendo uma relação com seus projetos pessoais; deste modo, o mestre deve ajudar o aluno a encontrar e tratar de problemas que lhe sejam significativos.
Um ambiente escolar compreensivo e encorajador, a ausência de notas, e a avaliação de si mesmo possibilitam que o aluno realize progressos.
Um dos melhores meios para promover a aprendizagem consiste em confrontar o aluno com problemas práticos, pessoais, sociais, morais, filosóficos e problemas de pesquisa.
Um ensino autodeterminado que envolve tanto os sentimentos como a inteligência é aquele que penetra e é mantido por mais tempo; a aprendizagem mais eficaz é aquela em que a pessoa e empenha numa aprendizagem de si para si.
No mundo de hoje, a aprendizagem mais útil socialmente é aprender a ficar aberto à própria experiência e a internalizar  o processo de mudança de modo a poderem viver bem num mundo em constantes mudanças.
Essa visão de ensino fundamenta-se em dez princípios que resultaram da experiência de Rogers. São eles:
Os seres humanos tem uma capacidade natural para a aprendizagem, a qual, não se efetua sem alguma dor, mas, o ser humano obtém prazer em desenvolver seu potencial, o que acaba por ultrapassar as dificuldades que sofre.
A aprendizagem que implica em mudança na organização ou percepção do ego é sentida como ameaçadora e existe uma tendência à resistência, o que pode torná-la penosa e ameaçadora.
Ameaças contra o ego, como o ridículo, as humilhações, o rebaixamento e o desprezo constituem ameaças à percepção que cada um tem de si mesmo e, como tais, interferem seriamente na aprendizagem.
A aprendizagem é facilitada quando o estudante escolhe por si mesmo os meios para aprender e se apercebe de que deve responsabilizar-se de modo direto pelas conseqüências de suas ações.
São as crianças e os adolescentes que devem avaliar os próprios comportamentos, obter conclusões e decidir sobre os critérios que lhes convém, desenvolvendo a autocrítica e auto-avaliação e estas são consideradas fundamentais em relação à avaliação feita pelos outros. Deste modo, a independência de espírito, a criatividade e a confiança em si são facilitadas.



O papel facilitador do ensino

    Para que o aluno tenha a liberdade de aprender o mestre precisa tornar-se um facilitador.
    Para Rogers este termo, facilitador, traduz um mestre que estabeleça em sua sala um clima positivo construído pela confiança em relação ao grupo e às pessoas. E, para ser um facilitador, o docente deve também aceitar a si próprio, conhecer seus limites, ser ele mesmo, sem fachadas e máscaras ( condição fundamental para qualquer relação verdadeira), precisando ainda, estabelecer uma compreensão "empática" com o aluno de modo que o leve a compreender o modo como o outro sente os acontecimentos, como expressa suas idéias e também os sentimentos.
    Esse facilitador compreenderá os sentimentos do estudante e o aceitará como é, optando por uma atitude de consideração positiva incondicional. Essa aceitação é a exigência de respeitar o outro como alguém que tem o direito de ser diferente da pessoa do mestre.
    Enquanto fornece condições para que o aluno se sinta livre para escolher o projeto que deseja realizar, o mestre deve procurar organizar o espaço em que esse projeto tenha possibilidade de tomar corpo, reunindo o máximo de recursos de aprendizagem, assim como ele mesmo se proporá como um recurso: conselheiro, guia, consultor...
    O mestre facilitador, empático e acolhedor não se torna o dono da identidade do aluno, mas, também, não perde a sua própria.

    A abordagem humanista entende que o mundo é “criado” em cada indivíduo com base em suas percepções, estímulos e experiências. Por isto, deve-se permitir ao aluno criar sua própria noção de mundo calçado em suas experiências.
    A teoria rogeriana tem uma grande relevância pela insistência dada à importância da qualidade das relações interpessoais e na confiança que é necessário dar ao aluno.
    O pensamento de Carl Rogers foi bastante criticado, principalmente por causa de sua não- diretividade, críticas muitas vezes baseadas em esteriótipos de sua teoria.



Pedagogia rogeriana e práticas sociais


    Na área do trabalho social a corrente rogeriana encontra uma boa aceitação, pois na base  desse trabalho está o conceito de não- diretividade, ao ter como objetivo o indivíduo ser capaz de dirigir-se e controlar seu próprio desenvolvimento.

    Os trabalhadores sociais que atuam com esses objetivos têm como pressupostos a aceitação do indivíduo, a confiança em suas capacidades e recursos, o reconhecimento das diferenças. Nessa perspectiva existe a crença na possibilidade de mudança pela auto-descoberta e libertação da afetividade, na capacidade de assumir responsabilidades e tomar decisões autônomas na organização de sua vida.

    Pourtois & Desmet (1999, 226) coloca: "Notemos que a corrente rogeriana insiste fortemente no desenvolvimento da pessoa. Os valores que privilegia são de uma pessoa voluntária, responsável, autônoma. Não se interessa pelo homem social, mas reforça a importância fundamental da qualidade das relações interpessoais".

Bibliografia: Pourtois, J. P, et Desmet H. A educação pós-moderna. Loyola, 1999.

 Vera Lúcia Camara F. Zacharias, mestre em educação, pedagoga, diretora de escola aposentada, com vasta experiência na área educacional em geral, palestrante, realiza assessoria e capacitação de profissionais nos mais diversos segmentos da área educacional.


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