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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A educação no Brasil



Educação no Brasil: a História das rupturas

José Luiz de Paiva Bello
2001
Introdução

A História da Educação Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de serem observadas.
A primeira grande ruptura travou-se com a chegada mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam características próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a educação que se praticava entre as populações indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu.
Num programa de entrevista na televisão o indigenísta Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa aldeia Xavante que retrata bem a característica educacional entre os índios: Orlando observava uma mulher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, pegava o pote pronto e o jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jogava no chão. Esta cena se repetiu por sete potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que a mulher índia respondeu: "- Porque ele quer."
Podemos também obter algumas noções de como era feita a educação entre os índios na série Xingu, produzida pela extinta Rede Manchete de Televisão. Neste seriado podemos ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta.
Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade européia; trouxeram também os métodos pedagógicos.
Este método funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem estruturada em termos de educação o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas régias, o subsídio literário, mas o caos continuou até que a Família Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve transferir o Reino para o Novo Mundo.
Na verdade não se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para preparar terreno para sua estadia no Brasil D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior.
A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Basta ver que enquanto nas colônias espanholas já existiam muitas universidades, sendo que em 1538 já existia a Universidade de São Domingos e em 1551 a do México e a de Lima, a nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em São Paulo.
Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e muitos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamação da República tentou-se várias reformas que pudessem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira não sofreu uma processo de evolução que pudesse ser considerado marcante ou significativo em termos de modelo.
Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do mundo, que é a de manter o "status quo" para aqueles que freqüentam os bancos escolares.
Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. E é isso que tentamos passar neste texto.
Os períodos foram divididos a partir das concepções do autor em termos de importância histórica.
Se considerarmos a História como um processo em eterna evolução não podemos considerar este trabalho como terminado. Novas rupturas estão acontecendo no exato momento em que esse texto está sendo lido. A educação brasileira evolui em saltos desordenados, em diversas direções.




Período Jesuítico (1549 - 1759)

A educação indígena foi interrompida com a chegada dos jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasileiro em março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus, em terras brasileiras, e durante mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a propagação da fé religiosa.
No Brasil os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos após a chegada, já era composta por cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).
Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade européia; trouxeram também os métodos pedagógicos. Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio Studiorum. Eles não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além do curso elementar mantinham cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes. No curso de Letras estudava-se Gramática Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filosofia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais.
Este modelo funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia algo muito bem estruturado, em termos de educação, o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos.
No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo educacional.



Período Pombalino (1760 - 1808)

Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bahia, 53 de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles levaram também a organização monolítica baseada no Ratio Studiorum.
Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educativa no Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Episcospal, no Pará, e os Seminários de São José e São Pedro, que não se encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Escola de Artes e Edificações Militares, na Bahia, e a Escola de Artilharia, no Rio de Janeiro.
Os jesuítas foram expulsos das colônias em função de radicais diferenças de objetivos com os dos interesses da Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer Portugal da decadência que se encontrava diante de outras potências européias da época. Além disso, Lisboa passou por um terremoto que destruiu parte significativa da cidade e precisava ser reerguida. A educação jesuítica não convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal. Ou seja, se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado.
Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias, Pombal criava as aulas régias de Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só passou a funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada, com professor único e uma não se articulava com as outras.
Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para isso instituiu o "subsídio literário" para manutenção dos ensinos primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio” era uma taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. Além de exíguo, nunca foi cobrado com regularidade e os professores ficavam longos períodos sem receber vencimentos a espera de uma solução vinda de Portugal.
Os professores geralmente não tinham preparação para a função, já que eram improvisados e mal pagos. Eram nomeados por indicação ou sob concordância de bispos e se tornavam "proprietários" vitalícios de suas aulas régias.
O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do século XIX, a educação brasileira estava reduzida a praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para dar continuidade a um trabalho de educação.


Período Joanino (1808 – 1821)

A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para atender as necessidades de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior. O surgimento da imprensa permitiu que os fatos e as idéias fossem divulgados e discutidos no meio da população letrada, preparando terreno propício para as questões políticas que permearam o período seguinte da História do Brasil.
A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Para o professor Lauro de Oliveira Lima (1921-    ) "a 'abertura dos portos', além do significado comercial da expressão, significou a permissão dada aos 'brasileiros' (madereiros de pau-brasil) de tomar conhecimento de que existia, no mundo, um fenômeno chamado civilização e cultura".


Período Imperial (1822 - 1888)

D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu filho D. Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824, outorga a primeira Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei Magna dizia que a "instrução primária é gratuita para todos os cidadãos".
Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores institui-se o Método Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um aluno treinado (decurião) ensinava um grupo de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância de um inspetor.
Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. Em 1827 um projeto de lei propõe a criação de pedagogias em todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de professores, para nomeação. Propunha ainda a abertura de escolas para meninas.
Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as províncias passariam a ser responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. Graças a isso, em 1835, surge a primeira Escola Normal do país, em Niterói. Se houve intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que, pelas dimensões do país, a educação brasileira perdeu-se mais uma vez, obtendo resultados pífios.
Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso secundário. Efetivamente o Colégio Pedro II não conseguiu se organizar até o fim do Império para atingir tal objetivo.
Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente nada se fez de concreto pela educação brasileira. O Imperador D. Pedro II, quando perguntado que profissão escolheria não fosse Imperador, afirmou que gostaria de ser "mestre-escola". Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi feito, em sua gestão, para que se criasse, no Brasil, um sistema educacional.


Período da Primeira República (1889 - 1929)

A República proclamada adotou o modelo político americano baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar percebe-se influência da filosofia positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária. Estes princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na Constituição brasileira.
Uma das intenções desta Reforma era transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não apenas preparador. Outra intenção era substituir a predominância literária pela científica.
Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já que não respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos que defendiam a predominância literária, já que o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico.
O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando, assim, a parte literária em detrimento da científica.
A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o curso secundário se tornasse formador do cidadão e não como simples promotor a um nível seguinte. Retomando a orientação positivista, prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade de oferta de ensino que não seja por escolas oficiais, e de freqüência. Além disso, prega ainda a abolição do diploma em troca de um certificado de assistência e aproveitamento e transfere os exames de admissão ao ensino superior para as faculdades. Os resultados desta Reforma foram desastrosos para a educação brasileira.
Num período complexo da História do Brasil surge a Reforma João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral e Cívica com a intenção de tentar combater os protestos estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes.
A década de vinte foi marcada por diversos fatos relevantes no processo de mudança das características políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o Movimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista (1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927).
Além disso, no que se refere à educação, foram realizadas diversas reformas de abrangência estadual, como as de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928.


Período da Segunda República (1930 - 1936)

A Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada do Brasil no mundo capitalista de produção. A acumulação de capital, do período anterior, permitiu com que o Brasil pudesse investir no mercado interno e na produção industrial. A nova realidade brasileira passou a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era preciso investir na educação. Sendo assim, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos como "Reforma Francisco Campos".
Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores da época.
Em 1934 a nova Constituição (a segunda da República) dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos.
Ainda em 1934, por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. A primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931.
Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de Educação na qual se situava o Instituto de Educação.


Período do Estado Novo (1937 - 1945)

Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova Constituição em 1937. A orientação político-educacional para o mundo capitalista fica bem explícita em seu texto sugerindo a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para as novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido a nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e profissional.
Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam livres à iniciativa individual e à associação ou pessoas coletivas públicas e particulares, tirando do Estado o dever da educação. Mantém ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário Também dispõe como obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e secundárias.
No contexto político o estabelecimento do Estado Novo, segundo a historiadora Otaíza Romanelli, faz com que as discussões sobre as questões da educação, profundamente ricas no período anterior, entrem "numa espécie de hibernação". As conquistas do movimento renovador, influenciando a Constituição de 1934, foram enfraquecidas nessa nova Constituição de 1937. Marca uma distinção entre o trabalho intelectual, para as classes mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o ensino profissional para as classes mais desfavorecidas.
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, são reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, e são compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o ensino profissionalizante.
O ensino ficou composto, neste período, por cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial, podendo ser na modalidade clássico ou científico. O ensino colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório para o ensino superior, e passou a se preocupar mais com a formação geral. Apesar dessa divisão do ensino secundário, entre clássico e científico, a predominância recaiu sobre o científico, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial.


Período da Nova República (1946 - 1963)

O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma nova Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova Constituição, na área da Educação, determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Além disso, a nova Constituição fez voltar o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada nos princípios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, nos primeiros anos da década de 30.
Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além de criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a Revolução de 1930.
Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de 1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão com o objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da educação nacional. Esta comissão, presidida pelo educador Lourenço Filho, era organizada em três subcomissões: uma para o Ensino Primário, uma para o Ensino Médio e outra para o Ensino Superior. Em novembro de 1948 este anteprojeto foi encaminhado à Câmara Federal, dando início a uma luta ideológica em torno das propostas apresentadas. Num primeiro momento as discussões estavam voltadas às interpretações contraditórias das propostas constitucionais. Num momento posterior, após a apresentação de um substitutivo do Deputado Carlos Lacerda, as discussões mais marcantes relacionaram-se à questão da responsabilidade do Estado quanto à educação, inspirados nos educadores da velha geração de 1930, e a participação das instituições privadas de ensino.
Depois de 13 anos de acirradas discussões foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem a pujança do anteprojeto original, prevalecendo as reivindicações da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de ensino no confronto com os que defendiam o monopólio estatal para a oferta da educação aos brasileiros.
Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado muitas iniciativas marcaram este período como, talvez, o mais fértil da História da Educação no Brasil: em 1950, em Salvador, no Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a sua idéia de escola-classe e escola-parque; em 1952, em Fortaleza, Estado do Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática baseada nas teorias científicas de Jean Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a educação passa a ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da Educação e Cultura; em 1961 a tem inicio uma campanha de alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos; em 1962 é criado o Conselho Federal de Educação, que substitui o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda em 1962 é criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire.


Período do Regime Militar (1964 - 1985)

Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as propostas eram "comunizantes e subversivas".
O Regime Militar espelhou na educação o caráter anti-democrático de sua proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores.
Neste período deu-se a grande expansão das universidades no Brasil. Para acabar com os "excedentes" (aqueles que tiravam notas suficientes para serem aprovados, mas não conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular classificatório.
Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, aproveitando-se, em sua didática, do expurgado Método Paulo Freire. O MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil... Não conseguiu. E, entre denúncias de corrupção, acabou por ser extinto e, no seu lugar criou-se a Fundação Educar.
É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante.


Período da Abertura Política (1986 - 2003)

No fim do Regime Militar a discussão sobre as questões educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e assumido um caráter político. Para isso contribuiu a participação mais ativa de pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de educação num sentido mais amplo do que as questões pertinentes à escola, à sala de aula, à didática, à relação direta entre professor e estudante e à dinâmica escolar em si mesma. Impedidos de atuarem em suas funções, por questões políticas durante o Regime Militar, profissionais de outras áreas, distantes do conhecimento pedagógico, passaram a assumir postos na área da educação e a concretizar discursos em nome do saber pedagógico.
No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para uma nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado Octávio Elísio, em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge Hage enviou à Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que acabou por ser aprovado em dezembro de 1996, oito anos após o encaminhamento do Deputado Octávio Elísio.
Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de hoje, a fase politicamente marcante na educação, foi o trabalho do economista e Ministro da Educação Paulo Renato de Souza. Logo no início de sua gestão, através de uma Medida Provisória extinguiu o Conselho Federal de Educação e criou o Conselho Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esta mudança tornou o Conselho menos burocrático e mais político.
Mesmo que possamos não concordar com a forma como foram executados alguns programas, temos que reconhecer que, em toda a História da Educação no Brasil, contada a partir do descobrimento, jamais houve execução de tantos projetos na área da educação numa só administração.
O mais contestado deles foi o Exame Nacional de Cursos e o seu "Provão", onde os alunos das universidades têm que realizar uma prova ao fim do curso para receber seus diplomas. Esta prova, em que os alunos podem simplesmente assinar a ata de presença e se retirar sem responder nenhuma questão, é levada em consideração como avaliação das instituições. Além do mais, entre outras questões, o exame não diferencia as regiões do país.
Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do mundo, que é mais o de manter o "status quo", para aqueles que freqüentam os bancos escolares, e menos de oferecer conhecimentos básicos, para serem aproveitados pelos estudantes em suas vidas práticas.
Concluindo podemos dizer que a História da Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. Ela é feita em rupturas marcantes, onde em cada período determinado teve características próprias.
A bem da verdade, apesar de toda essa evolução e rupturas inseridas no processo, a educação brasileira não evoluiu muito no que se refere à questão da qualidade. As avaliações, de todos os níveis, estão priorizadas na aprendizagem dos estudantes, embora existam outros critérios. O que podemos notar, por dados oferecidos pelo próprio Ministério da Educação, é que os estudantes não aprendem o que as escolas se propõem a ensinar. Somente uma avaliação realizada em 2002 mostrou que 59% dos estudantes que concluíam a 4ª série do Ensino Fundamental não sabiam ler e escrever.
Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam sendo usados como norma de ação, nossa educação só teve caráter nacional no período da Educação jesuítica. Após isso o que se presenciou foi o caos e muitas propostas desencontradas que pouco contribuíram para o desenvolvimento da qualidade da educação oferecida.
É provável que estejamos próximos de uma nova ruptura. E esperamos que ela venha com propostas desvinculadas do modelo europeu de educação, criando soluções novas em respeito às características brasileiras. Como fizeram os países do bloco conhecidos como Tigres Asiáticos, que buscaram soluções para seu desenvolvimento econômico investindo em educação. Ou como fez Cuba que, por decisão política de governo, erradicou o analfabetismo em apenas um ano e trouxe para a sala de aula todos os cidadãos cubanos.
Na evolução da História da Educação brasileira a próxima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse único, que atenda às necessidades de nossa população e que seja eficaz.

REFERÊNCIAS

LIMA, Lauro de Oliveira. Estórias da educação no Brasil: de Pombal a Passarinho. 3. ed. Rio de Janeiro: Brasília, 1969. 363 p.

PILLETTI, Nelson. Estrutura e funcionamento do ensino de 1o grau. 22. ed. São Paulo: Ática, 1996.

________ . Estrutura e funcionamento do ensino de 2o grau. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995.

________ . História da educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Ática, 1996a.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.

FREI MIGUEL NA FESTA DE SÃO FRANCISCO 2011 EM CANINDÉ -CE. PARCERIA DA PASTORAL VOCACIONAL COM A PASTORAL MISSIONÁRIA.

Celestin Freinet (1896-1966) - O educador



Celestin Freinet (1896-1966),

               crítico da escola tradicional e das escolas novas, Freinet foi criador, na França, do movimento da escola moderna. Seu objetivo básico era desenvolver uma escola popular.
     Na sua concepção, a sociedade é plena de contradições que refletem os interesses antagônicos das classes sociais que nela existem, sendo que tais contradições penetram em todos os aspectos da vida social, inclusive na escola. Para ele, a relação direta do homem com o mundo físico e social é feita através do trabalho (atividade coletiva) e   liberdade é aquilo que decidimos em conjunto.
     Em suas concepções educacionais dirige pesadas críticas à escola tradicional, que considera inimiga do "tatear experimental", fechada, contrária à descoberta, ao interesse e ao prazer da criança.
     Analisou de forma crítica o autoritarismo da escola tradicional, expresso nas regras rígidas da organização do trabalho, no conteúdo determinado de forma arbitrária, compartimentados e defasados em relação à realidade social e ao progresso das ciências.

      Era contra o autoritarismo sob qualquer aspecto, sendo contrário à avaliação quantitativa e à imposição de castigos e sanções. Isso não significa que, de acordo com a corrente pedagógica que criou, não deva haver ordem e disciplina em sala de aula. Ao contrário, o respeito mútuo entre professor e aluno é fundamental.
     Mas, critica também as propostas da Escola Nova, particularmente Decroly e Montessori, questionando seus métodos, pela definição de materiais, locais e condições especiais para a realização do trabalho pedagógico.
     Para Freinet as mudanças necessárias e profundas na educação deveriam ser feitas pela base, ou seja, pelos próprios professores.
     O movimento pedagógico fundado por ele caracteriza-se por sua dimensão social, evidenciada pela defesa de uma escola centrada na criança, que é vista não como um indivíduo isolado, mas, fazendo parte de uma comunidade.
     Atribui grande ênfase ao trabalho: as atividades manuais tem tanta importância quanto as intelectuais, a disciplina e a autoridade resultam do trabalho organizado. Questiona as tarefas escolares(repetitivas e enfadonhas) opostas aos jogos(atividades lúdicas, recreio), apontando como essa dualidade presente na escola, reproduz a dicotomia trabalho/prazer, gerada pela sociedade capitalista industrial.
     A escola por ele concebida, é vista como elemento ativo de mudança social e é também popular por não marginalizar as crianças das classes menos favorecidas.  
     Propõe o trabalho/jogo como atividade fundamental.
     Freinet elabora toda uma pedagogia, com técnicas construídas com base na experimentação e documentação, que dão à criança instrumentos para aprofundar seu conhecimento e desenvolver sua ação. "O desejo de conhecer mais e melhor nasceria de uma situação de trabalho concreta e problematizadora. 
     O trabalho de que trata aí não se limita ao manual, pois o trabalho é um todo, como o homem é um todo. Embora adaptado à criança, o trabalho deve ser uma atividade verdadeira e não um trabalho para brincar, assim como a organização escolar não deve ser uma caricatura da sociedade"
       Dá grande importância à participação e integração entre famílias/comunidade e escola, defendendo o ponto de vista de que "se se respeita a palavra da criança, necessariamente há mudanças".
     Algumas técnicas da pedagogia de Freinet: o desenho livre, o texto livre, as aulas-passeio, a correspondência interescolar, o jornal, o livro da vida (diário e coletivo), o dicionário dos pequenos, o caderno circular para os professores, etc. Essas técnicas têm como objetivo favorecer o desenvolvimento dos métodos naturais da linguagem (desenho, escrita, gramática), da matemática, das ciências naturais e das ciências sociais. Porém, essas técnicas não são um fim em si mesmas, e sim, momentos de um processo de aprendizagem, que ao partir dos interesses mais profundos da criança, propicia as condições para o estabelecimento da apropriação do conhecimento.
      Vemos que Freinet considera a aquisição do conhecimento como fundamental, mas, essa aquisição deve ser garantida de forma significativa.
     Sua proposta pedagógica mesclada entre teoria e prática, advém das suas observações das crianças, das práticas de trabalhos que realizou com elas, das reflexões teóricas elaboradas tendo como ponto de partida essa prática, que é constantemente recolocada em prática em diversas situações escolares.

    Em sua proposta os instrumentos e os meios são importantes para propiciar participação e interesse, são mediadores para liberar e despertar o interesse para o trabalho. A experiência é a possibilidade para que a criança chegue ao conhecimento. Assim, criação, trabalho e experiência, por sua ação conjunta resultam em aprendizagem.

      Freinet concebe a educação como um processo dinâmico que se modifica com o tempo e que está determinada pelas condições sociais. Desta maneira. é preciso, transformar a escola para adaptá-la à vida, para readaptá-la ao meio. Esta tarefa estaria nas mãos do professor, que obtém sucesso quando toma consciência de que a educação é uma necessidade, uma realidade.

      Ele acredita no poder transformador da educação. Por isso propõe uma pedagogia de busca  e experiências que eduque profundamente. Proporciona à criança um papel ativo de acordo com seus interesses. O trabalho é algo que deve ser valorizado e praticado cotidianamente. A educação é uma preparação para a vida social e aí está uma das razões de advogar o trabalho cooperativo como via para transformar a sociedade e a natureza e a sociedade são os objetivos e também os conteúdos do ensino. 

     Podemos afirmar que Freinet é um dos pedagogos contemporâneos que mais contribuições oferece àqueles que atualmente estão preocupados com a construção de uma escola ativa, dinâmica, historicamente inserida em um contexto social e cultural.      
     Logicamente em termos de nossa realidade atual, podemos levantar questionamentos a algumas de suas concepções, tais como: uma visão otimista demais do poder de transformação exercido pela escola, a identificação da dimensão social aos fatores de classe, deixando de fora os aspectos discriminativos relativos a questões de cor e sexo, da proposta do professor ser o "escriba" dos alunos, quando as investigações mais atuais da psicolingüística nos levam para outra direção.





HISTÓRIA DE PROFESSOR
Adriana Ferronato Parisotto

Era uma vez um professor do ensino fundamental que estava no início de sua carreira e foi para sala de aula cheio de ideologia, achando que iria mudar o mundo. Bom, se não mudasse o mundo, pelo menos mudaria algo na educação – Era assim que ele pensava.

Porém, no primeiro ano em que estava trabalhando, percebeu que ninguém tinha avisado para ele, que seus sonhados alunos dos tempos de formação, (tão perfeitos no sonho), tinham se transformado naquele misto de indisciplina e desinteresse que estava ali na sua frente. Com raríssimas exceções, aquelas crianças aparentavam estar mais próximas da debilidade que da inteligência. Ele estava realmente muito decepcionado.

Lembrou-se dos seus planos e dos seus sonhos e começou a refletir:

Devia ser a escola, só podia ser! Quem poderia aprender numa escola assim? Carteiras desconfortáveis; alunos demais para um espaço tão pequeno; ventilação inadequada; poeira; cheiro de mofo...

Tudo isso, além de trazer-lhe decepção, agravava seus problemas respiratórios. Sua saúde física e mental estavam sendo abaladas.

E aqueles programas de ensino? Horríveis! E os livros didáticos então? Ultrapassados, sem atrativos e cheios de idéias equivocadas.

Foi então que o professor ficou sabendo que em breve haveria um concurso para a inspetoria de ensino, e mesmo se achando meio covarde por pensar em desistir de seus sonhos, (ele iria mudar o mundo, lembra?) enfiou a cara nos estudos. Estudou todas teorias mais recentes, se esforçando ao máximo para não ter que enfrentar mais um ano de sala de aula. Sua saúde não agüentaria.

Algo aconteceu então.

Nem ele soube ao certo, se por excesso de cuidados com sua saúde ou se por extrema devoção àquelas crianças tão necessitadas de saber, ou ainda, se por falta de compromisso com aquela educação desconexa e irreal, ou até mesmo pela soma desses motivos, mas a partir daquele momento o professor resolveu levar seus alunos para um ambiente mais agradável, onde pudessem pelo menos respirar tranqüilamente.

Começaram sentando-se sob a sombra agradável das árvores próximas à escola, onde as aulas pareciam ter ganho um pouco mais de ânimo. O professor percebeu então, que seus alunos estavam muito interessados na paisagem próxima dali. Resolveu levá-los para passear, ver essa paisagem de perto. Tocá-la. Nesses passeios seus alunos acabavam recolhendo pedrinhas, pequenos insetos, flores, plantas, e tudo viravam motivo de debate e ponto de partida para o conhecimento. As crianças discutiam as distâncias que haviam sido percorridas, demonstrando um conhecimento matemático que até então, seu professor desconhecia que tinham. Visitavam também a gente do povo em seus afazeres e trabalhos corriqueiros, tendo sempre muitos assuntos a tratar e transformar em conhecimento.

Quando voltavam para a sala de aula era evidente o desnível entre os dois momentos. Lá fora, as crianças traduziam seus sentimentos com sorrisos e expressões de bem estar. Lá dentro, aulas sem atrativos, maçantes.

Aquele valente professor se encheu de coragem e resolveu mudar tudo. Teve uma brilhante idéia. Iria dar aulas lá fora, explicar todos os conteúdos que fossem possíveis, pois percebeu que seus alunos poderiam aprender com extrema facilidade daquela forma, e ao voltar para a sala de aula, teve outra brilhante idéia que complementou a primeira. Eles escreveriam tudo aquilo, construindo textos coletivos sobre o que haviam estudado. E fazendo esses textos, percebeu que poderia trabalhar sua língua mãe, exercitar a gramática e a ortografia de forma mais prazerosa que nos maçantes livros escolares. Os textos eram copiados pelas crianças em seus cadernos e depois ilustrados conforme a visão de cada um. As crianças, felizes e entusiasmadas com a construção desse conhecimento, queriam mais.

 E o professor proporcionou mais. Com extremo sacrifício, comprou uma antiga impressora de tipografia e deu vida a uma idéia conjunta. O que era estudado, virava texto coletivo. Esse texto, depois de devidamente corrigido e revisado era impresso na velha impressora tipográfica pelos próprios alunos.

A correspondência interescolar foi mais uma conquista dos alunos e do professor. Aquelas crianças passaram a receber e enviar cartas para outras escolas do país e até para outros países. Eles já não estavam sós. Havia, naquele momento, muitos professores interessados em conhecer e em aplicar aquela nova metodologia de ensino. Nosso conhecido professor era requisitado para contar sua experiência em congressos e encontros pedagógicos. Unindo-se então com um bom número de professores, organizou uma cooperativa de ensino que em poucos anos tinha um grande número de adeptos.

Quanto orgulho para o professor e seus alunos!

Porém algo aconteceu que veio a mudar os rumos da história.

As pessoas da pequena cidade que acompanhavam aquele trabalho acharam que o professor estava ficando louco. Imaginem só! Já tinha tudo nos livros! Para quê crianças pobres como aquelas precisavam mais que isso? Aquele doido que não se atrevesse a ir pedir patrocínio. Não seria gasto nem um centavo com aquela gente sem importância.

Além do mais, com essa loucura toda, aquelas crianças petulantes estavam começando a questionar os preços das mercadorias nos mercados, questionavam os comerciantes quanto a lucros exorbitantes, não acreditavam mais em todas as notícias dos jornais, que eram lidos com criticidade, imaginem! E se achavam no direito de discutir em pé de igualdade com os filhos da gente rica de lá. – “Não, isso não estava certo” – diziam os moradores mais influentes. Foi quando nosso professor recebeu a gentil sugestão de pedir transferência para outro local, de preferência longe dali.



Ele foi trabalhar em outra cidade, com sua impressora tipográfica e seus ideais como peças fundamentais de sua bagagem. Naquela ocasião, lhe vieram à mente todos os momentos dos oito anos de trabalho na escola anterior. Lembrou-se de seus estudos para o concurso que nem chegou a fazer, mas que certamente influenciaram cada passo que dera até ali. Lembrou-se de seus alunos, de seus medos e isso lhe trouxe ainda mais força para continuar. 

Em sua nova escola encontrou muitas dificuldades, mas a essa altura já era experiente e não se assustou. Fez o seu trabalho com amor. Utilizou sua metodologia, fez crescer seus ideais, buscou mais adeptos para a cooperativa que crescia e proporcionava boas idéias, vindas de muitas partes do mundo. Colocava as idéias em prática com determinação. Naquele momento, já possuía impressoras mais eficientes e além disso, sua participação em congressos era muito requisitada. Os polêmicos artigos que escrevia eram criticados por uns e adorados por outros. Seus ideais também. Ideais esses que a essa altura já tinham virado foco de atenção no meio pedagógico de seu país, o que lhe trouxe algumas alegrias e muitos aborrecimentos. As autoridades locais não podiam aceitar os rumos que as coisas estavam tomando. E depois de tentarem prender nosso professor, que foi defendido pelos pais e alunos da escola, exoneraram-no.

Abatido, mas não derrotado, aquele professor mudou-se para outra cidade onde montou uma escola, e onde mais uma vez se encheu de coragem e ergueu a bandeira de seus ideais, que continuavam tão vivos quanto há quatorze anos quando começou sua história profissional.

Muito envolvido em lutas de classe e na política de seu país, escrevia artigos cada vez mais polêmicos, tomava atitudes cada vez mais ousadas. Lutava bravamente a favor das classes sociais menos favorecidas com o intuito de minimizar as diferenças.

Porém, mais uma vez suas atitudes louváveis para a maioria desfavorecida, estavam sendo julgadas com rigor e desaprovação pela minoria dominante. Nosso professor, foi acusado de ser um perigoso líder terrorista, sendo visto como  comandante de um centro de espionagem internacional (e tratava-se apenas da cooperativa de professores que havia criado há tantos anos).

Seu país tinha acabado de entrar em guerra e essas questões eram muito delicadas. Ele foi preso. Sua saúde frágil já havia resistido a uma guerra, há muitos anos, onde lutara, fora ferido e desenganado pelos médicos, que na época lhe recomendaram repouso e vida tranqüila. A profissão de professor parecia ser a saída, já que não exigia tanto esforço físico, mesmo sabendo que seus dias de vida seriam poucos, pois seus pulmões haviam sido afetados sobremaneira. E no entanto, contra todas as expectativas, ali estava ele, tantos anos depois. Sendo preso e levado para um campo de prisioneiros de guerra, onde, apesar de muito doente, alfabetizou alguns companheiros de cárcere e escreveu alguns artigos.

Ficou preso por cerca de dois anos e nos quinze anos que se seguiram, aquele homem de personalidade forte e saúde fraca fortaleceu seus ideais, fortificou a cooperativa de ensino que havia fundado e deixou um legado pedagógico que é seguido por muitos educadores pelo mundo afora.

História real?

Ficção?

Trata-se da história de um homem magnífico que acreditou em seus ideais e soube despertar os ideais mais nobres de seus próximos, principalmente das crianças com quem conviveu e a quem educou.

Este homem chamava-se Célestine  Freinet, francês, marido de Elise Freinet e pai de Madelaine Freinet, nascido em 15 de outubro de 1896 e falecido aos 70 anos, em 8 de outubro de 1966. Um homem que soube escrever sua história com os recursos que tinha. Não desistindo, nem se curvando aos percalços da vida.

BIBLIOGRAFIA:

Freinet, Elise -Nascimento de uma  pedagogia popular. Editorial Estampa ltda. 1978 – Lisboa – Portugal.




Célestin Freinet
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Freinet

               Celestin Freinet (15 de outubro de 1896- outubro de 1966) foi um pedagogo francês, um importante reformador da Pedagogia de sua época, cujas propostas continuam uma grande referência para a Educação nos dias atuais.

Índice:

1 Vida
2 Proposta pedagógica
3 Invariantes pedagógicas
4 Técnicas desenvolvidas por Freinet
5 Ver também
6 Ligações externas

Vida

Freinet nasceu em Provença numa família de oito filhos. Seus dias de escola foram profundamente desagradáveis, e afetaram seus métodos de ensino e desejo de reforma. Em 1915 foi recrutado pelo exército francês, ocasião em que teve uma lesão pulmonar causada por gases tóxicos. Esta experiência o transformou em um pacifista convicto. Em 1920 iniciou seu trabalho como professor de escola primária, antes mesmo de concluir o curso normal. Foi quando Freinet começou a desenvolver seus métodos de ensino.

Estudante utilizando a Imprensa Escolar de Freinet

                 Em 1923 Freinet comprou um limógrafo, para ajudar em seu ensino, já que seu ferimento do pulmão dificultava que falasse por períodos longos. Foi com este tipógrafo que imprimiu textos livres e jornais da classe para seus alunos.
                 As próprias crianças compunham seus trabalhos, os discutiam e os editavam em pequenos grupos, antes de apresentar o resultado à classe. Os jornais eram trocados com os de outras escolas. Gradualmente os textos do grupo substituíram livros didáticos convencionais.
                 Em 1924, Freinet criou uma cooperativa de trabalho com professores de sua aldeia, esta cooperativa suscitou o movimento da Escola Moderna na França. Neste mesmo ano inicia as primeiras correspondências escolares.
                  Em 1925, conhece a artista plástica Élise, que começa a trabalhar como sua ajudante e em 1926 casa-se com ela, e anos depois tem com ela uma filha, Madeleine Freinet.
                  Escreve o livro A Imprensa na Escola e cria a revista "La Gerbe" (O Ramalhete) composta de poemas infantis. Os métodos do ensino de Freinet eram divergentes da política oficial de educação nacional e causavam um clima de desconfiança, especialmente devido ao grande volume de correspondências trocadas, por esta razão ele foi exonerado de suas funções em 1935 e começou sua própria escola, junto com sua esposa, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial.
                   Em 1940, Freinet é preso e mandado para o campo de concentração de Var, onde fica gravemente doente, mesmo assim, enquanto esteve preso deu aulas para os companheiros. Sua esposa Elise Freinet depois de muita luta consegue sua libertação. Logo após sair do campo, Freinet entra para o movimento da resistência francesa.
Proposta pedagógica

                         Para Freinet, que iniciou a carreira docente em 1920, a educação deveria proporcionar ao aluno a realização de um trabalho real. Sua carreira docente teve início construindo os princípios educativos de sua prática, onde enfocava que "ninguém avança sozinho em sua aprendizagem, a cooperação é fundamental". Ele propunha uma mudança da escola, pois a considerava teórica e portanto desligada da vida.

                         Suas propostas de ensino estão baseadas em investigações a respeito da maneira de pensar da criança e de como ela construía seu conhecimento. “A sala de aula deve ser prazerosa e bastante ativa, pois o trabalho é o grande motor da pedagogia”. Através da observação constante ele percebia onde e quando tinha que intervir e como despertar a vontade de aprender do aluno. A aprendizagem através da experiência se faz mais eficaz, porque se o aluno faz um experimento e dá certo, ele o repetirá e avançará no procedimento; porém não avançará sozinho, precisará da cooperação do professor.

                           Fica claro que a interação professor-aluno é essencial para a aprendizagem. Para que ocorra esta sintonia é necessário que o professor considere o conhecimento do aluno já existente, e que é o fruto do meio em que vive. Estar em contato co a realidade em que vive o aluno é fundamental. As práticas atuais de jornal escolar, troca de correspondência, trabalhos em grupo, aula-passeio são idéias defendidas e aplicadas por Freinet, desde os anos 20 do século passado. Fica claro, porém, que o professor que pratica as atividades acima citadas, mas que ignorou os aspectos políticos e sociais ao redor da escola, não está de acordo com a proposta do educador. Isto porque sua pedagogia traz em seu bojo a preocupação com a formação de um ser social que atua no presente. “O Educador deve ter a sensualidade de atualizar sua prática”, provavelmente isto faz com que Freinet, seja hoje tão atual.

                          O professor deve mesclar seu trabalho com a vida em comunidade, criando as associações, os conselhos, eleições, enfim as várias formas de participação e colaboração de tudo na formação do aluno, direcionando o movimento pedagógico em defesa da fraternidade, respeito e crescimento de uma sociedade cooperativa e feliz. Há princípios no saber Pedagógico que C.Freinet considerava invariáveis, ou seja, independente do local ou período histórico, certos pressupostos deveriam sempre ser levados em conta na prática educacional. Desta forma, postulou as chamadas "Invariantes Pedagógicas",consideradas como pilares de sua proposta Pedagógica. Jean Piaget fala sobre a importância da "célebre idéia" da imprensa escolar de Freinet, que, instrui a criança a fazer pequenos textos, chegando a ler, escrever e ortografar de maneira diferente daquela que não tem idéia. Desde sua origem, o movimento sempre se manteve aberto a todas as experiências pedagógicas através de documentos, revistas, circulares, cartas e boletins. Freinet buscava formas alternativas de ensino, pois não conseguia se adaptar a forma tradicional, fazia também relatórios diários de cada criança. Ao que se refere às cartilhas, ele questiona seu valor, pois os conteúdos nada tinham a ver com a realidade da criança, portanto, não traziam nenhum estímulo à aprendizagem da leitura. Célestin dava muita importância ao trabalho, pois este, deveria ser o centro de toda atividade escolar enfatizando-o como forma do ser humano ascender, exercer seu poder. Ele não desvalorizava o aprender, mas achava que tudo deveria passar pela experiência de vida, para que o aprendizado fosse integrado ao que se aprendia, e isso só é possível pela ação, através do trabalho. O trabalho desenvolve o pensamento, até o pensamento lógico e inteligente, que se faz a partir de preocupações materiais, sendo que esta, é um degrau para abstração , sendo que no, e pelo trabalho, o ser humano se exprime e se realiza eficazmente. Lembrando-se que, quando o autor exalta o trabalho, não está referindo-se forçosamente ao trabalho manual, pois para ele, o trabalho engloba toda pesquisa, documentação e experimentação. Com relação à intervenção do professor, só se dava para organizar o trabalho, sem precisar de imposições ou ameaças. Para ele, a disciplina escolar se resume no seguinte: executando uma atividade que a envolve, a criança automaticamente se torna disciplinada. Freinet apresenta meios para crescer e ascender: a liberdade. Sendo que esta é relativa e não pode existir fora da vida e do trabalho de cada um. Para ele, a liberdade é a possibilidade do ser humano vencer obstáculos. Célestin buscou técnicas pedagógicas que pudessem envolver todas as crianças no processo de aprendizagem, independentemente da diferença de caráter, inteligência ou meio social, (lembrando-se mais uma vez que ele afirmava que o conteúdo estudado no meio escolar deveria estar relacionado às condições reais de seus alunos). Ao estudar o problema da educação, ele propunha que ao mesmo tempo em que o professor almejasse a escola ideal, criativa e libertadora, deveria também estudar as condições concretas que estariam impedindo a sua realização.

Invariantes pedagógicas:

*A criança é da mesma natureza que o adulto.
*Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros.
*O comportamento escolar de uma criança depende do seu estado fisiológico, orgânico e constitucional.
*A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias.
*A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rígida, quando isto significa obedecer passivamente uma ordem externa.
*Ninguém gosta de fazer determinado trabalho por coerção, mesmo que, em particular, ele não o desagrade. Toda atitude imposta é paralisante.
*Todos gostam de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a mais vantajosa.
*Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujeitando-se a rotinas nas quais não participa.
*É fundamental a motivação para o trabalho.
*É preciso abolir a escolástica.
*Todos querem ser bem-sucedidos. O fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo.
*Não é o jogo que é natural na criança, mas sim o trabalho.
*Não são a observação, a explicação e a demonstração - processos essenciais da escola - as únicas vias normais de aquisição de conhecimento, mas a experiência tateante,que é uma conduta natural e universal.
*A memória, tão preconizada pela escola, não é válida, nem preciosa, a não ser quando está integrada no tateamento experimental, onde se encontra verdadeiramente a serviço da vida.
*As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, como às vezes se crê, mas sim pela experiência. Estudar primeiro regras e leis é colocar o carro na frente dos bois.
*A inteligência não é uma faculdade específica, que funciona como um circuito fechado, independente dos demais elementos vitais do indivíduo, como ensina a escolástica.
*A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência, que atua fora da realidade fica fixada na memória por meio de palavras e idéias.
*A criança não gosta de receber lições autoritárias.
*A criança não se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atende aos rumos de sua vida.
*A criança e o adulto não gostam de ser controlados e receber sanções. Isso caracteriza uma ofensa à dignidade humana, sobretudo se exercida publicamente.
*As notas e classificações constituem sempre um erro.
*Fale o menos possível.
*A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho. Ela prefere o trabalho individual ou de equipe numa comunidade cooperativa.
*A ordem e a disciplina são necessárias na aula.
*Os castigos são sempre um erro. São humilhantes, não conduzem ao fim desejado e não passam de paliativo.
*A nova vida da escola supõe a cooperação escolar, isto é, a gestão da vida pelo trabalho escolar pelos que a praticam, incluindo o educador.
*A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pedagógico.
*A concepção atual das grandes escolas conduz professores e alunos ao anonimato, o que é sempre um erro e cria barreiras.
*A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime autoritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas.
*Uma das primeiras condições da renovação da escola é o respeito à criança e, por sua vez, a criança ter respeito aos seus professores; só assim é possível educar dentro da dignidade.
*A reação social e política, que manifesta uma reação pedagógica, é uma oposição com o qual temos que contar, sem que se possa evitá-la ou modificá-la.
*É preciso ter esperança otimista na vida.

Técnicas desenvolvidas por Freinet:

Aula das descobertas: aulas de campo, voltadas para os interesses do estudantes
Auto-avaliação: fichas criadas por Freinet, preenchidas pelos alunos, como forma de registrar a própria aprendizagem
Auto-correção: modalidade de correção de textos feita pelos próprios autores, no caso os alunos, sob a orientação do educador
Correspondência Interescolar: atividade largamente utilizada por Freinet, na qual os alunos se comunicavam com outros estudantes de escolas diferentes
Fichário de consulta: fichas criadas por alunos e professores, para suprir as lacunas deixadas pelos livros didáticos convencionais
Imprensa escolar: os textos escritos pelos alunos tinham uma função social real, já que não serviam meramente como forma avaliativa, já que eram publicados e lidos pelos colegas
Livro da vida: caderno no qual os alunos registram suas impressões, sentimentos, pensamentos em formas variadas, o qual fica como um registro de todo o ano escolar de cada classe
Plano de trabalho: atividade realizada em pequenos grupos que sob a orientação do educador, com base em um dado tema, desenvolvem um plano a ser realizado num certo intervalo de tempo

              Educador Francês Célestin Freinet (1896 - 1966) Interesses didático-educativos e o forte engajamento político, voltado para posições socialistas. Obras publicadas em cerca de 25 idiomas, totalizam mais de 100 edições diferentes.





A Pedagogia Freinet
           
                       
           
 São Princípios de Freinet:
Vida Cooperativa
Educação do Trabalho
Tateamento Experimental
Expressão Livre
 Freinet recomenda observar:
Os Invariantes Pedagógicos que propõe;
As Leis profundas do comportamento
A coerência da prática das técnicas e da utilização de instrumentos de trabalho que propõe. 

   A Pedagogia Freinet é uma proposta pedagógica que tem em mira modernizar a escola, marcando assim uma nova etapa da evolução da mesma, através de uma gama de valores alicerçados no bom senso. Freinet não quer uma escola à parte, mas a própria escola pública (escola do povo) é que deverá ser modernizada para atender, na sua essência, às necessidades do povo. Para isso ele põe em evidência meios que revolucionaram, tanto a educação de um modo geral, quanto à escola em particular, estabelecendo uma verdadeira relação professor-aluno.
   Trata-se de um movimento de reação contra tudo o que existe de tradicional na escola. A sala de aula passa a ser o lugar onde professor e alunos discutem conjuntamente, em clima de harmonia e disciplina, tanto os conhecimentos básicos da aprendizagem, como os problemas da vida cotidiana.
   É uma educação que respeita o indivíduo e a diversidade e reencontra a identidade própria do ser humano através da individualidade de cada um; que respeita as crianças tais quais elas são, sem submetê-las a modelos pré-estabelecidos e que as ajuda na formação de sua personalidade. É uma pedagogia real e concreta que procura oferecer às crianças e aos adolescentes uma educação condizente com as suas necessidades e mediante as práticas cotidianas.
   É uma ESCOLA DO POVO. Escola essa que procura responder aos anseios individuais, sociais, intelectuais, técnicos e morais da vida desse povo, numa sociedade em pleno desenvolvimento tecnológico e científico.
   É uma pedagogia que tem em mira formar o homem mais responsável, capaz de agir e interagir no seu meio; um homem mais apto a contribuir na transformação da sociedade. Para tanto, na sua prática educativa, tem primazia o desenvolvimento do espírito crítico, o questionamento das idéias recebidas, o espírito de curiosidade.
   Os fundamentos e as linhas de ação da Pedagogia Freinet, estão centrados no "homem" a fim de elevá-lo a mais alta dignidade do seu ser. E a realização plena de sua personalidade através da vivência de sua cidadania.
   A Pedagogia Freinet não se dá no vazio de uma ação educativa sem rumos concretos. Por essa razão ele estabelece bases de apoio que são os seus princípios


 






  Base de Apoio da Pedagogia Freinet
           
a) O principio da cooperação - permite desenvolver entre as crianças e entre estas e os professores, relações que conduzem à organização das diversas modalidades de trabalho como: conversa livre, conselho de classe, reunião cooperativa em acordo com a idade dos alunos. A reunião cooperativa é a mola mestra de todas as decisões, sejam relativas às práticas pedagógicas do ensino-aprendizagem, sejam no âmbito do desenvolvimento de atitudes e habilidades, que no seu conjunto constitui a "formação do homem".

   A vida cooperativa muda às condições de trabalho de sala de aula instaurando novas estruturas de relações que priorizam as responsabilidades e as competências e dão ao trabalho o seu verdadeiro lugar pela valorização de todos os sucessos, pela multiplicação desses sucessos e pelo encaminhamento adequado dos erros que geram os fracassos. A vida cooperativa responderá a demanda real - a da segurança e a da ordem.

   - Organização cooperativa - A reunião cooperativa para a gestão do trabalho e a regulamentação dos conflitos. A divisão das responsabilidades. Elaboração das regras de vida e de trabalho.

b) A comunicação e a expressão livre - Propicia uma aprendizagem viva e real desde que a criança tenha liberdade de expressar o seu pensamento em todas as circunstâncias que lhe são permitidas: o desenho a palavra oral e escrita, as construções etc.

   - Expressão e comunicação -Conversa livre, textos livres, expressão corporal e artística, conferências debates...

c) A educação do trabalho, este enquanto atividade produtiva que auxilia a criança a construir a sua própria aprendizagem. Para tanto, o trabalho deve ser realmente livre, escolhido por ela e organizado no seu plano de trabalho tanto individual quanto coletivo. Numa educação pelo trabalho não tem sentido e nem lugar tarefas impostas que conduzem as crianças a se desobrigarem o mais cedo possível para se verem livres de tal tarefa como se fosse um fardo pesado em lugar de ser uma atividade prazerosa.

   - Trabalho individualizado e socializado: contratos de trabalho, projetos, pesquisas, avaliação formativa, trabalho com fichas, livros...
d) O tateamento experimental - é um processo que se inscreve no "devir" global de cada criança como parte integrante da formação de sua personalidade. Não é uma técnica pedagógica tendo por objetivo a assimilação do saber, nem um simples caminhar em busca da aquisição do saber. É um ato inteligente desempenhado por um ser que busca a construção do seu conhecimento. A superioridade do "tateamento experimental" está no fato de que o homem e a criança não copiam um tateamento e sim o constroem, gerando assim a experiência. Segundo Freinet o tateamento experimental contribui para a edificação da inteligência.

- O tateamento experimental - aprendizagem graças à pesquisa nas situações verdadeiras e problemáticas...







A PEDAGOGIA DE  CÉLESTIN FREINET

                                                            José Luiz de Paiva Bello
                                                            Rio de Janeiro - 1999

Cronologia de Célestin Freinet:
      1896
       - Célestin Freinet nasce em Gars, no sul da França, na região de Provença, em 15 de outubro.
       - Na adolescência mudou-se para Nice onde iniciou o Curso de Magistério

      1914\1918
       - Na I Guerra Mundial Freinet interrompe seus estudos e alista-se no exército.
       - Sofrendo ações dos gases tóxicos, que prejudicaram seus pulmões para o resto da vida, teve baixa do exército e perambulou por diversos hospitais sem esperança de cura.

      1920
       - Freinet inicia em Bar-Surloup suas atividades como professor-adjunto sem ainda ter concluído o Curso Normal.

      1921\1924
       - Através do sensível contato com os alunos começa as descobertas essencialmente práticas que originaram as atividades voltadas para o interesse das crianças.
       - Também trabalha com os aldeões e forma uma Cooperativa de Trabalho.
       - Começam as primeiras correspondências entre as escolas.

      1926\1928
       - Conhece Elise, artista plástica, que chega para trabalhar como sua colaboradora.
       - Casa-se com Elise e edita o livro A Imprensa na Escola. Criou a revista "La Gerbe" (O Ramalhete), com poemas infantis.
       - Fundou a Cooperativa de Ensino Leigo.
       - Elise e Freinet passam a trabalhar em Saint Paul.

      1933\1939
       - Em função da intensa correspondência decorrente das atividades realizadas na Escola e na Cooperativa acabaram por gerar desconfiança e hostilidades.
       - Freinet é exonerado do cargo de professor em Sant Paul de Vence.
       - Freinet e Elise continuam trabalhando na Cooperativa.
       - A escola de Freinet é oficialmente aberta.
       - Freinet e Romain Roland lançam a idéia do movimento Frente da Infância.
       - Começa a II Guerra Mundial.

      1940
       - Freinet é preso no campo de concentração de Var.
       - Fica gravemente doente e na prisão dá aula para os seus companheiros.
       - Enquanto isso Elise luta pela sua libertação.
       - Após ser solto Freinet se integra ao Movimento da Resistência Francesa.

      1947\1948
       - É criado o ICEM. A Cooperativa já reunia 20 mil participantes.

      1956
       - Preocupados com o excesso de crianças em sala de aula lançam uma campanha nacional por 25 alunos por classe.

      1966
       - Freinet morre na cidade de Vence, na França.

A pedagogia Freinet é centralizada na criança e baseada sobre alguns princípios:
       - senso de responsabilidade
       - senso cooperativo
       - sociabilidade
       - julgamento pessoal
       - autonomia
       - expressão
       - criatividade
       - comunicação
       - reflexão individual e coletiva
       - afetividade

Invariantes Pedagógicas:
       1. A criança é da mesma natureza que o adulto.
       2. Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros.
       3. O comportamento escolar de uma criança depende do seu estado fisiológico, orgânico e constitucional.
       4. A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias.
       5. A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rígida, quando isto significa obedecer passivamente uma ordem externa.
       6. Ninguém gosta de fazer determinado trabalho por coerção, mesmo que, em particular, ele não o desagrade. Toda atitude imposta é paralisante.
       7. Todos gostam de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a mais vantajosa.
       8. Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo, atuar como máquina, sujeitando-se a rotinas nas quais não participa.
       9. É fundamental a motivação para o trabalho.
       10. É preciso abolir a escolástica.
       10- a. Todos querem ser bem-sucedidos. O fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo.
       10- b. Não é o jogo que é natural na criança, mas sim o trabalho.
       11. Não são a observação, a explicação e a demonstração - processos essenciais da escola - as únicas vias normais de aquisição de conhecimento, mas a experiência tateante,que é uma conduta natural e universal.
       12. A memória, tão preconizada pela escola, não é válida, nem preciosa, a não ser quando está integrada no tateamento experimental,onde se encontra verdadeiramente a serviço da vida.
       13. As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, como às vezes se crê, mas sim pela experiência. Estudar primeiro regras e leis é colocar o carro na frente dos bois.
       14. A inteligência não é uma faculdade específica, que funciona como um circuito fechado, independente dos demais elementos vitais do indivíduo, como ensina a escolástica.
       15. A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência, que atua fora da realidade fica fixada na memória por meio de palavras e idéias.
       16. A criança não gosta de receber lições autoritárias.
       17. A criança não se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atende aos rumos de sua vida.
       18. A criança e o adulto não gostam de ser controlados e receber sanções. Isso carcteriza uma ofensa à dignidade humana, sobretudo se exercida publicamente.
       19. As notas e classificações constituem sempre um erro.
       20. Fale o menos possível.
       21. A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho. Ela prefere o trabalho individual ou de equipe numa comunidade cooperativa.
       22. A ordem e a disciplina são necessárias na aula.
       23. Os castigos são sempre um erro. São humilhantes, não conduzem ao fim desejado e não passam de paliativo.
       24. A nova vida da escola supõe a cooperação escolar, isto é, a gestão da vida pelo trabalho escolar pelos que a praticam, incluindo o educador.
       25. A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pedagógico.
       26. A concepção atual das grandes escolas conduz professores e alunos ao anonimato, o que é sempre um erro e cria barreiras.
       27. A democracia de amanhã prepara-se pela democracia na escola. Um regime autoritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas.
       28. Uma das primeiras condições da renovação da escola é o respeito à criança e, por sua vez, a criança ter respeito aos seus professores; só assim é possível educar dentro da dignidade.
       29. A reação social e política, que manifesta uma reação pedagógica, é uma oposição com o qual temos que contar, sem que se possa evitá-la ou modificá-la.
       30. É preciso ter esperança otimista na vida. (Sampaio, 1989: 81-99)

Técnicas Freinet
       - Aula passeio
       - Texto livre
       - Imprensa escolar
       - Correção
       - Livro da vida
       - Fichário de consulta
       - Plano de Trabalho
       - Correspondência interescolar
       - Auto-avaliação

Aula Passeio
       Por acreditar que o interesse da criança não estava na escola e sim fora dela, Freinet idealizou esta atividade com o objetivo de trazer motivação, ação e vida para a escola.

Texto Livre
       É a base da livre expressão, pode ser um desenho, um poema ou pintura. A criança determina a forma, o tema e o tempo para sua realização. Porém se a criança desejar que seu texto seja divulgado deverá passar pela correção coletiva.

Imprensa Escolar
       Seu ponto de partida são as entrevistas, pesquisas, vivências e aulas-passeio. Freinet usava o tipógrafo. Todo processo de construção e impressão é coletivo.

Correção
       Para o texto ser divulgado é necessário que esteja perfeito e a correção é fundamental. Ela pode ser feita coletivamente, ou em autocorreção. Freinet acredita que o "erro" deva ser trabalhado com a criança para que ela perceba e faça o acerto.

Livro da Vida
       Funciona como um diário da classe, registrando a livre expressão (texto, desenho e pintura). Esta atividade permite que as crianças exponham seus diferentes modos de ver a aula e a vida.

Fichário de Consulta
       Põe a disposição da criança exercícios destinados à aquisição dos mecanismos do cálculo, ortografia, gramática, história, ciências etc. São construídas em sala de aula pelos professores na interação com a turma. Freinet criticava duramente os livros didáticos fora da realidade da criança.

Plano de Trabalho
       Tendo o currículo escolar como ponto de partida, os grupos de alunos se organizavam para escolher as estratégias de desenvolvimento das atividades que podiam ser realizadas em grupos, duplas, ou individualmente. Para registro do plano são elaboradas fichas onde são anotadas as realizações da semana.

Correspondência Interescolar
       É uma atividade em que a criança faz a aprendizagem da vida cooperativa, uma classe se corresponde com a outra. Depois dos professores terem se comunicado e organizado a forma. Podem enviar: cartas, textos, fitas, vídeos, desenhos e e-mail.

Auto-Avaliação
       A criança registra o resultado do seu trabalho em fichas de auto-avaliação que permitem constantes comparações entre os trabalhos realizados. Segundo Freinet o aluno e o professor devem se avaliar regularmente.

Indicações Bibliográficas:

BERNARD, Eliade. A escola aberta: Freinet no secundário. Lisboa: Horizonte, 1978.

FREINET, Célestin. A educação pelo trabalho. Lisboa: Presença, 1974.

________. A saúde mental da criança. Lisboa: Edições 70, 1978.

________. As técnicas Freinet da escola moderna. Lisboa: Estampa, 1975.

________. Conselho aos pais. Lisboa: Estampa, 1975.

________. Ensaio de psicologia sensível. Lisboa: Presença, 1976.

________. O jornal escolar. Lisboa: Estampa, 1976.

________. O método natural. Lisboa: Estampa, 1977.

________. O método natural de gramática. Lisboa: Dinalivro, 1978.

________. Para uma escola do povo. Lisboa: Presença, 1973.

________. Pedagogia do bom-senso. São Paulo: Martins Fontes, 1985.

________. Texto livre. Lisboa: Dinalivro, 1973.

FREINET, Celestin, BALESSE, L.. A leitura pela imprensa na escola. Lisboa: Dinalivro, 1977.

FREINET, Celestin, SALENGROS, R.. Modernizar a escola. Lisboa: Dinalivro, 1977.

FREINET, Elise. O itinerário de Célestin Freinet: a livre expressão na pedagogia de Freinet. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.

________. Nascimento de uma pedagogia popular. Lisboa: Estampa, 1978.

SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker Ferreira. Freinet: evolução histórica e atualidades. São Paulo: Scipione, 1989.




. Ser Humanista Segundo Célestin Freinet

Ser humanista na visão de Célestin Freinet é a capacidade que todo educador tem de desenvolver plenamente todas as capacidades da criança. Ele procurou aprimorar todas as suas atividades, tento como concepção o bem-estar e a dignidade da criança como ser humano. Ele foi muito além do que se refere a valores ideológicos e até mesmo religiosos, levou em conta a "ética humana". Muitas das palavras ditas por Célestin Freinet ao longo da sua vida vem de encontro com a Declaração Universal dos Direitos das Crianças da ONU.

Quem estuda a Pedagogia Freinet e trabalha com ela diariamente, percebe que se trata muito mais do que uma simples "Proposta Pedagógica", diria que é uma "Filosofia de Vida". A criança é vista como um ser autônomo, para qual é capacitada a escolher sobre orientação, quais as atividades a ser desenvolvida segundo o seu próprio interesse. É vista também, como um ser racional, capaz de desde muito cedo a opinar e criticar diante de fatos ou assuntos que lhe são expostos, é dado o direito e a oportunidade de raciocinar sobre tudo aquilo que lhe é proposto, tudo passa a ser mais significativo. O livre arbítrio também é respeitado entre as crianças, sendo respeitada nas suas escolhas e recusas, sempre analisando o motivo de tal decisão.
Assim como no adulto, toda criança já possui dentro de si mesma uma consciência moral, cabe ao educador ajudar a desenvolver e a aprimorar essa moral primitiva. Quem conhece o trabalho da Pedagogia Freinet na prática, pode presenciar um dos direitos do ser humano ser respeitado e valorizado, que nada mais é, do que o direito de desenvolver a capacidade criativa e imaginativa que cada um de nós temos dentro de si como seres humanos, geralmente as crianças que crescem sobre essa pedagogia são mais criativas e ousadas do que outras, que são educadas sem terem os seus direitos humanos respeitados.Todo indivíduo é sócio-político, ou seja, tem a sua parte de responsabilidade na sociedade na qual esta inserida e conseqüentemente é envolvido politicamente mesmo não querendo. Célestin Freinet tinha tanta consciência disso, que se envolveu em vários movimentos políticos e foi perseguido por isso, ele como todo humanista lutava por uma igualdade universal, sempre voltada para a área da educação que era o que realmente lhe interessava e preocupava mais. Em suas atividades, ele tentava ensinar aos seus alunos a serem mais solidários através de cooperativas que criava dentro das escolas, ele também lutava por uma educação democrática, onde todos tinham voz para opinar, tentava passar o significado de justiça e acima de tudo, tentava ensinar aos seus alunos a serem mais humanos.

Célestin Freinet tinha compromisso em ajudar a todos os indivíduos que necessitasse, quer estando envolvidos dentro da escola ou não, ele se preocupava em aperfeiçoar e a desenvolver as potencialidades de cada um, como ser humano. Sua proposta pedagógica é humanista e liberal, busca educar a criança para ser um homem livre e crítico, apropriando-se da sua vida humana por completo, assimilando a cultura em que vive e a cidadania, primordial para qualquer ser humano.
Um dos objetivos da educação na visão de Célestin Freinet, é o alcance da vida humana plena e dignamente, apropriando-se da cultura e da cidadania. A educação humanista é democrática, pluralista, aberta e crítica, acima de tudo é sensível e atenta às diferenças e necessidades culturais e até mesmo individuais, e é nessa visão que todas as crianças são educadas na pedagogia freinetiana. Ele foi um educador humanista contemporâneo, que tinha como uma de suas metas, humanizar seus alunos e seus seguidores, Freinet tinha um espírito libertador intelectual, era autônomo moralmente e pluralista em seus pensamentos, tentou em sua pedagogia libertar seus alunos da ignorância, do preconceito, do capricho, da alienação e da falsa consciências, buscando assim, desenvolver as potencialidades humanas de cada um.De forma clássica e humanista, a perfeição humana deveria servir de modelo para regularizar a educação e servir de ideal para todos os seres humanos, em especial os educadores. A educação humanista é formadora de pessoas livres,construtores de um juízo sólido e de nobre caráter em seus alunos, para Célestin Freinet nenhum homem pode ser considerado educador se não for fiel as suas tradições, sendo crítico e liberal. Na sua pedagogia é necessário se praticar as virtudes enobrecendo o homem e a sabedoria humana, o exercício das faculdades naturais, a espontaneidade, o interesse pelas coisas naturais, fazem parte da filosofia embutida na pedagogia de Célestin Freinet, a autenticidade pessoal, a auto-realização e o ambiente democrático que é construído, também fazem parte da sua filosofia.Isso tudo, faz parte do processo de crescimento do jovem-humano como ser realizador e conquistador, é o lado romântico intrínseco na forma de educação humanista. Célestin Freinet foi atento, como todo humanista e educador, a natureza interior de cada um de seus alunos, e criou meios para que tal natureza desabrocha-se de forma saudável e plena. E é assim que seus seguidores pensam e tentam agir com seus educandos.Célestin Freinet respeitava a essência do homem como ser livre e pensante, cabe a seus seguidores definirem e a criarem situações para tal desenvolvimento de cada ser humano, tentando criar verdadeiros autores, e portanto, assim responsáveis. Os alunos, nessa visão na qual são educados não são obrigados a aceitar as verdades alheias, mas cabe sim a eles a opção de escolha, dando lhes oportunidades de criarem suas próprias identidades e traçarem os seus projetos de vida.

Muitos fatos da vida cotidiana afetam direta e indiretamente o desenvolvimento emocional, intelectual, moral e até mesmo físico das crianças, portanto, não se pode negar a relação existente entre a política e a educação. Para que ambas caminhem juntas e bem, seria necessário que a pedagogia se tornasse mais política e que a política se tornasse mais pedagógica, Célestin Freinet tinha esse pensamento também. Assim sendo, todos os educadores deveriam passar a ter uma visão emancipada sobre todos os problemas sócio-culturais, transmitindo e criando oportunidades para que seus alunos estejam capacitados criticamente, tento consciência e autocontrole de suas próprias vidas.
Todos os educadores devem lutar coletivamente, assim como Freinet fez na sua época, agindo como sujeitos transformadores, fazendo das escolas um local democrático, com objetivo de ensinar suas crianças a respeito do que é viver em uma sociedade justa como ser humano, independente de sua raça, classe, sexo ou idade. Há apenas uma preocupação para a educação humanista de Célestin Freinet, e esta preocupação é a de viver a vida em todas as suas manifestações. Um dos primores do educador humanista Freinet, nada mais é do que orientar e capacitar seus alunos como indivíduos capazes de levarem uma vida completa e intensa, tendo envolvimentos políticos e uma boa conduta moral, com sensibilidade para apreciar o que é belo tanto na natureza quanto na arte, além de se preocupar em formar pessoas íntegras e com conhecimento geral, ele também achava necessário se transmitir como se deve utilizar desses conhecimentos.

As crianças educadas na Pedagogia de Célestin Freinet, não tem problemas de integração, quer seja em pequenos grupos ou em grandes comunidades; apesar disso tudo elas possuem um senso de individualidade bastante apurado, de autonomia e são bastante autênticas, os educadores humanistas são vistos pelos seus alunos como um exemplo de vida. Deve-se criar um clima na escola de confiança, diálogo, respeito, tolerância, zelo, liberdade, compromisso e responsabilidade, se algum desses ingredientes vier a faltar, de nada adiantará os ensinamentos deixados pelo nosso saudoso Célestin Freinet.


Celestin Freinet (1896-1966),

 crítico da escola tradicional e das escolas novas, Freinet foi criador, na França, do movimento da escola moderna. Seu objetivo básico era desenvolver uma escola popular.
     Na sua concepção, a sociedade é plena de contradições que refletem os interesses antagônicos das classes sociais que nela existem, sendo que tais contradições penetram em todos os aspectos da vida social, inclusive na escola. Para ele, a relação direta do homem com o mundo físico e social é feita através do trabalho (atividade coletiva) e   liberdade é aquilo que decidimos em conjunto.
     Em suas concepções educacionais dirige pesadas críticas à escola tradicional, que considera inimiga do "tatear experimental", fechada, contrária à descoberta, ao interesse e ao prazer da criança.
     Analisou de forma crítica o autoritarismo da escola tradicional, expresso nas regras rígidas da organização do trabalho, no conteúdo determinado de forma arbitrária, compartimentados e defasados em relação à realidade social e ao progresso das ciências.

      Era contra o autoritarismo sob qualquer aspecto, sendo contrário à avaliação quantitativa e à imposição de castigos e sanções. Isso não significa que, de acordo com a corrente pedagógica que criou, não deva haver ordem e disciplina em sala de aula. Ao contrário, o respeito mútuo entre professor e aluno é fundamental.
     Mas, critica também as propostas da Escola Nova, particularmente Decroly e Montessori, questionando seus métodos, pela definição de materiais, locais e condições especiais para a realização do trabalho pedagógico.
     Para Freinet as mudanças necessárias e profundas na educação deveriam ser feitas pela base, ou seja, pelos próprios professores.
     O movimento pedagógico fundado por ele caracteriza-se por sua dimensão social, evidenciada pela defesa de uma escola centrada na criança, que é vista não como um indivíduo isolado, mas, fazendo parte de uma comunidade.
     Atribui grande ênfase ao trabalho: as atividades manuais têm tanta importância quanto as intelectuais, a disciplina e a autoridade resultam do trabalho organizado. Questiona as tarefas escolares(repetitivas e enfadonhas) opostas aos jogos(atividades lúdicas, recreio), apontando como essa dualidade presente na escola, reproduz a dicotomia trabalho/prazer, gerada pela sociedade capitalista industrial.
     A escola por ele concebida, é vista como elemento ativo de mudança social e é também popular por não marginalizar as crianças das classes menos favorecidas.  
     Propõe o trabalho/jogo como atividade fundamental.
     Freinet elabora toda uma pedagogia, com técnicas construídas com base na experimentação e documentação, que dão à criança instrumentos para aprofundar seu conhecimento e desenvolver sua ação. "O desejo de conhecer mais e melhor nasceria de uma situação de trabalho concreta e problematizadora.
     O trabalho de que trata aí não se limita ao manual, pois o trabalho é um todo, como o homem é um todo. Embora adaptado à criança, o trabalho deve ser uma atividade verdadeira e não um trabalho para brincar, assim como a organização escolar não deve ser uma caricatura da sociedade"
       Dá grande importância à participação e integração entre famílias/comunidade e escola, defendendo o ponto de vista de que "se se respeita a palavra da criança, necessariamente há mudanças".
     Algumas técnicas da pedagogia de Freinet: o desenho livre, o texto livre, as aulas-passeio, a correspondência interescolar, o jornal, o livro da vida (diário e coletivo), o dicionário dos pequenos, o caderno circular para os professores, etc. Essas técnicas têm como objetivo favorecer o desenvolvimento dos métodos naturais da linguagem (desenho, escrita, gramática), da matemática, das ciências naturais e das ciências sociais. Porém, essas técnicas não são um fim em si mesmas, e sim, momentos de um processo de aprendizagem, que ao partir dos interesses mais profundos da criança, propicia as condições para o estabelecimento da apropriação do conhecimento.
      Vemos que Freinet considera a aquisição do conhecimento como fundamental, mas, essa aquisição deve ser garantida de forma significativa.
     Sua proposta pedagógica mesclada entre teoria e prática, advém das suas observações das crianças, das práticas de trabalhos que realizou com elas, das reflexões teóricas elaboradas tendo como ponto de partida essa prática, que é constantemente recolocada em prática em diversas situações escolares.

    Em sua proposta os instrumentos e os meios são importantes para propiciar participação e interesse, são mediadores para liberar e despertar o interesse para o trabalho. A experiência é a possibilidade para que a criança chegue ao conhecimento. Assim, criação, trabalho e experiência, por sua ação conjunta resultam em aprendizagem.

      Freinet concebe a educação como um processo dinâmico que se modifica com o tempo e que está determinada pelas condições sociais. Desta maneira. é preciso, transformar a escola para adaptá-la à vida, para readaptá-la ao meio. Esta tarefa estaria nas mãos do professor, que obtém sucesso quando toma consciência de que a educação é uma necessidade, uma realidade.

      Ele acredita no poder transformador da educação. Por isso propõe uma pedagogia de busca  e experiências que eduque profundamente. Proporciona à criança um papel ativo de acordo com seus interesses. O trabalho é algo que deve ser valorizado e praticado cotidianamente. A educação é uma preparação para a vida social e aí está uma das razões de advogar o trabalho cooperativo como via para transformar a sociedade e a natureza e a sociedade são os objetivos e também os conteúdos do ensino. 

     Podemos afirmar que Freinet é um dos pedagogos contemporâneos que mais contribuições oferece àqueles que atualmente estão preocupados com a construção de uma escola ativa, dinâmica, historicamente inserida em um contexto social e cultural.      
     Logicamente em termos de nossa realidade atual, podemos levantar questionamentos a algumas de suas concepções, tais como: uma visão otimista demais do poder de transformação exercido pela escola, a identificação da dimensão social aos fatores de classe, deixando de fora os aspectos discriminativos relativos a questões de cor e sexo, da proposta do professor ser o "escriba" dos alunos, quando as investigações mais atuais da psicolingüística nos levam para outra direção.

   Vera Lúcia Câmara F. Zacharias, mestre em educação, pedagoga, diretora de escola aposentada, com vasta experiência na área educacional em geral, palestrante, realiza assessoria e capacitação de profissionais nos mais diversos segmentos da área educacional.


Histórico

1896
Célestin Freinet nasce em Gars,no sul da França na região de Provença em 15 de outubro.Na adolescência se mudou para Nice onde iniciou o Curso de Magistério


1914\1918
Primeira Guerra Mundial Freinet interrompe seus estudos e alista-se no exército . Sofrendo ações dos gases tóxicos que prejudicaram seus pulmões para o resto da vida,teve baixa do exército e perambulou por diversos hospitais sem esperança de cura.


1920
Freinet inicia em Bar- Surloup suas atividades como professor-adjunto sem ainda ter concluído o Curso Normal.


1921\1924
Através da sensível contato com os alunos começa as descobertas essencialmente práticas que originaram as atividades voltadas para o interesse das crianças. Também trabalha com os aldeões e forma uma Cooperativa de Trabalho.Começam as primeiras correspondências entre as escolas .




1926\1928
Conhece Elise,artista plástica que chega para trabalhar como sua colaboradora . Casa-se com Elise e edita o livro A Imprensa na Escola,criou a revista "la Gerbe "(O Ramalhete ),com poemas infantis. Fundou a Cooperativa de Ensino Leigo. Elise e Freinet passam a trabalhar em Saint Paul.


1933\1939
Em função da intensa correspondência decorrente das atividades realizadas na Escola e na Cooperativa acabaram por gerar desconfiança e hostilidades. Freinet é exonerado do cargo de professor em Sant Paul de Vence. Freinet e Elise continuam trabalhando na Cooperativa,A Escola de Freinet é oficialmente aberta Freinet e Romain Roland lançam a idéia do movimento Frente da Infância. Começa a Segunda Guerra Mundial.


1940
Freinet é preso no campo de concentração de Var.Fica gravemente doente,na prisão ele dá aula para os seus companheiros. Enquanto isso Elise luta pela sua libertação,após ser solto Freinet se integra ao Movimento da Resistência Francesa.


1947\1948
É criado o ICEM. A Cooperativa já reunia 20mil participantes.


1956
Preocupados com o excesso de crianças em sala de aula lançam uma campanha nacional por 25 alunos por classe.


1966
Freinet morre na cidade de Vence,na França

Pedagogia Freinet

A pedagogia Freinet é centralizada na criança e baseada sobre alguns princípios.

senso de responsabilidade
senso cooperativo
sociabilidade
julgamento pessoal
autonomia
expressão
criatividade
comunicação
reflexão individual e coletiva
afetividade
Invariantes Pedagógicas
A criança é da mesma natureza que o adulto.
Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros.
O comportamento escolar de uma criança depende do seu estado fisiológico,orgânico e constitucional.
 A criança mais do que adulto não gosta de ser mandada autoritariamente .Toda ordem sob forma autoritária é um erro.
A criança e o adulto não gostam de uma disciplina rígida,quando isto significa obedecer passivamente uma ordem externa.
Ninguém gosta de ser obrigado a realizar determinado trabalho mesmo que,em particular,ele não o desagrade. Toda atitude imposta é paralisante.
Cada um gosta de escolher o seu trabalho mesmo que essa escolha não seja a mais vantajosa.
Ninguém gosta de trabalhar sem objetivo,atuar como máquina,sujeitando-se a rotinas nas quais não participa.
 É fundamental a motivação para o trabalho.
É necessário abolir a escolástica .Todos querem ser bem sucedidos.O fracasso inibe,destrói o ânimo e o entusiasmo.Não é o jogo que é natural na criança mas sim o trabalho.
Não são a observação, explicação e demonstração processos essenciais da escola-únicas vias normais de aquisição de conhecimento,mas a experiência tateante,que é uma conduta natural e universal.
A memória,tão preconizada pela escola,não é válida,nem preciosa,a não ser quando está integrada no tateamento experimental,onde se encontra verdadeiramente a serviço da vida .
As aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis,como as vezes se crê,mas sim pela experiência.Estudar primeiro regras e leis é colocar o carro na frente dos bois.
A inteligência não é uma faculdade específica,que funciona como um circuito fechado,independente dos demais elementos vitais do indivíduo,como ensina a escolástica.
A escola cultiva apenas uma forma abstrata de inteligência,que atua fora da realidade fica fixada na memória por meio de palavras e idéias.
A criança não se cansa de um trabalho funcional,ou seja que atende os rumos de sua vida.
A criança e o adulto não gostam de ser contrariados e receber sanções,isso caracteriza uma ofensa à dignidade humana sobretudo se exercida publicamente.
As notas e classificações constituem sempre um erro.
Fale o menos possível.
A criança não gosta de sujeitar-se a um trabalho em rebanho.Ela prefere o trabalho individual ou de equipe numa comunidade cooperativa .
A ordem e a disciplina são necessárias na aula.
Os castigos são sempre um erro.São humilhantes,não conduzem ao fim desejado e não passam de paliativo.
A nova vida da escola supõe a cooperação escolar,isto é ,a gestão da vida pelo trabalho escolar pelos que a praticam,incluindo o educador.
A sobrecarga das classes constitui sempre um erro pedagógico.
A concepção atual dos grandes escolas conduz professores e alunos ao anonimato,o que é sempre um erro e cria barreiras.
A democracia de amanhã prepara-se na escola. Um regime autoritário na escola não seria capaz de formar cidadãos democratas.
Uma das primeiras condições da renovação da escola é o respeito à criança e por sua vez,a criança ter respeito aos seus professores;só assim é possível educar dentro da dignidade.
A reação social e política,que manifesta uma reação pedagógica,é uma oposição com o qual temos que contar sem que se possa evitá-la ou modificá-la.
É preciso ter esperanças otimistas na vida.


Técnicas Freinet

Aula passeio
Texto livre
Impressa escolar
Correção
Livro da vida
Fichário de consulta
Plano de Trabalho
Correspondência interescolar
Auto-avaliação
Aula Passeio
Por acreditar que o interesse da criança não estava na escola e sim fora dela, Freinet idealizou esta atividade com o objetivo de trazer motivação, ação e vida para a escola.


Texto Livre
É a a base da livre expressão,pode ser um desenho, um poema ou pintura. A criança determina a forma, o tema e o tempo para sua realização. Porém se a criança desejar que seu texto seja divulgado deverá passar pela correção coletiva.


Impressa Escolar
Seu ponto de partida são as entrevistas,pesquisas,vivências e aulas-passeio.Freinet usava o limógrafo. Todo processo de construção e impressão é coletivo.


Correção
Para o texto ser divulgado é necessário que esteja perfeito e a correção é fundamental. Ela pode ser feita coletivamente,ou em auto-correção. Freinet acredita que o "erro" deva ser trabalhado com a criança para que ela perceba e faça o acerto.


Livro da Vida
Funciona como um diário da classe ,registrando a livre expressão(texto,desenho e pintura).Esta atividade permite que as crianças exponham as seus diferentes modos de ver a aula e a vida.


Fichário de Consulta
Põe a disposição da criança exercícios destinados à aquisição dos mecanismos do cálculo,ortografia,gramática,história,ciências e etc. São construídas em sala de aula pelos professores na interação com a turma.Freinet criticava duramente os livros didáticos muitos fora da realidade da criança.


Plano de Trabalho
Tendo o currículo escolar como ponto de partida,os grupos de alunos se organizavam para escolher as estratégias de desenvolvimento das atividades que podiam ser realizadas em grupos ,duplas,ou individualmente. Para registro do plano são elaboradas fichas onde são anotadas as realizações da semana.


Correspondência Interescolar
É uma atividade em que a criança faz a aprendizagem da vida cooperativa, uma classe se corresponde com a outra. Depois dos professores terem se comunicado e organizado a forma .Podem enviar : cartas,textos,fitas,desenhos,e é claro e-mail.


Auto-Avaliação
A criança registra o resultado do seu trabalho em fichas de auto-avaliação  que permitem constantes comparações entre os trabalhos realizados. Segundo Freinet o aluno e o professor devem se avaliar regularmente.